segunda-feira, 9 de novembro de 2009


ELE NÃO DÁ MIGALHAS

Por: William Vicente Borges


Minha querida filha grita.

Se contorce no chão

de sua boca ouço maldições

Médicos nada puderam fazer.


Choro. É minha querida filha,

sonhei com sua chegada

nove meses a embalei no ventre

quando nasceu tudo teve novo sentido.


Mas agora os sábios da vila dizem

que ela está endemoninhada

não entendo bem o que seja isso

mas não posso mais vê-la sofrer assim.


Tentei de tudo, todo os recursos

que se conhecia por aqui.

Mas não há quem ajude

Não há quem a possa curar.


Mais uma crise, ela se debate.

Ninguém vem acudir-me

todos passaram a ter medo

o desconhecido amedronta.


Alguém me conta então

de um tal profeta da Galileia,

mas é tão longe daqui, mas irei

O chamam de o Filho de Deus.


A viagem é tão penosa, estou cansada.

Mas preciso continuar, por minha filha.

Ela é meu maior bem.

Por ela seguirei em frente.


A sorte parece estar comigo

Disseram-me que ele está mais perto

está peregrinando pelo norte

Poderei estar com ele bem antes que pensava.


Não há nada que eu mais queira

Ele poderá realmente ajudar?

Ajudará esta pobre pagã estrangeira?

Ouvi dizer que ele a ninguém rejeita.


Posso vê-lo finalmente, Irei clamar:

Senhor, filho de Davi

tem misericórdia de mim! Minha filha

está terrivelmente endemoninhada.


Continuo atrás dele, mas ele parace

me ignorar, nada me responde.

Mas não desistirei, por minha filha

continuarei clamando até que me atenda.


Os discípulos que o acompanham

pedem a ele que me despeça

Não! Não vou! Correrei,

me prostrarei aos seus pés o adorarei

Senhor, socorre-me!


Ele então me responde em tom firme:

Não é bom tomar o pão dos filhos

e lançá-los aos cachorrinhos.

O que falo agora? Eu sinto no coração

que só ele tem o poder de me ajudar.


Não sei o que fazer agora.

Direi a ele, o que tenho na alma:

Sim, Senhor, porém os cachorrinhos

comem das migalhas que caem

da mesa do seus donos.


Espero que ele não me julgue mal

Por lhe falar desta forma, mas

o brilho de seu rosto não me

deixa dúvidas, ele é o salvador

nele reside a glória do Altíssimo.


Finalmente olha para mim e fala:

Ó mulher, grande é a tua fé!

Faça-se contigo como queres.

O meu coração me diz que

minha filha ficou sã.


No caminho de volta para casa

o rosto do profeta está em minha mente

estive com ele, nunca mais, talvez,

irei vê-lo. Mas seu que algo mudou em mim

e mudou para sempre.


Ao chegar minha filha me embalou

num longo abraço de amor.

Salva, liberta, feliz.

Contei-lhe sobre o profeta e juntas

o adoramos em meio aos campos de trigo.


Ele não me deu migalhas

me proporcionou um grande milagre

agora que contemplo minha filha

fazendo planos para a vida

agradeço muito o seu cuidado.


Meu coração e alma serão dele

seu nome ecoa em meus ouvidos

Enquanto eu viver não esquecerei

a jornada e o encontro. Não esquecerei

que ele nos amou como ninguém.


Não esquecerei seu rosto brilhante

e mesmo que aparentemente

não quisesse me abençoar, na verdade

só queria me provar, e me conduzir

ao lugar certo da adoração.


Ele não dá migalhas!

Não foi o que me deu,

mas mesmo que tivesse feito

seriam suas migalhas mais ricas

que qualquer grande banquete.


.......................

Outono de 2009


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